A primeira grande questão da análise do texto teatral é saber se o
mesmo se integra ao núcleo de textos literários. O crítico literário ou o
professor de Literatura tende a deixar de fora esse tipo de texto, onde
apenas dominariam os poéticos e a prosa da ficção. Em outro lado, os
críticos teatrais ou professores de Teatro se recusam a abranger seus
horizontes e estudar outros tipos de textos. Ao observar com mais
entusiasmo, vemos que essa divergência tem fundamentos: o Teatro
participa de expressões literárias na medida em que adota a palavra como
veículo de comunicação, mas extrapola a linha tênue quando sobe com o
texto ao palco. Sabemos que a peça só alcança sua real razão quando
encenada, então, diante disso, a conclusão é imediata: o Teatro
caracteriza-se pela ambiguidade, por um hibridismo que deve sempre ser
levado em conta ao analisar uma peça.
O
Teatro está intimamente vinculado às demais Artes, como as Artes
Plásticas (que colaboram para o cenário), a Música, a Coreografia, e
está condicionada a vários recursos mecânicos como a luz, o palco
giratório, a projeção de slides ou fragmentos cinematográficos, etc.
Visto que somente o texto é o que importa para a análise, as
interferências feitas pelas demais artes são postas de lado. Acontece,
porém, que o leitor deixará de assimilar os conteúdos de uma peça se não
recorrer à imaginação. Ora, uma narrativa qualquer implica que o leitor
ponha em funcionamento seus dotes de fantasia, mas os vários auxiliares
que lança mão o ficcionista (como a dissertação, a narração e a
descrição) lhe simplificam essa tarefa. O leitor de Teatro, tendo
carência desses auxiliares, vê-se obrigado a movimentar todas as
turbinas de sua imaginação, sob pena de permanecer impermeável ao texto.
Assim,
o leitor arquiteta na imaginação um palco em que transcorre a fábula da
peça. Ao fazê-lo, estará apto a observar a segunda etapa da análise do
texto teatral, referente à sua representabilidade. Em verdade, essa
análise ultrapassa os limites do plano de análise e penetra no terreno
de seu julgamento, mesmo porque a discussão da representabilidade de um
texto teatral parece extravasar o território literário e cair naquele em
que o Teatro se afigura arte autônoma.
Um texto
destinado à representação pode ser literariamente bom e teatralmente
mau, e vice-versa. Mas vale lembrar que a qualidade de uma peça não
depende da sua representabilidade: sua qualidade nos é dada por um
conjunto de fatores de ordem estética e ética, pela totalidade de suas
características e não por apenas uma delas.
Por isso, a
análise do texto teatral foca-se no texto como Literatura. Porém, o
leitor não pode esquecer em momento algum que o texto teatral é
diferente de um conto ou de um romance: diverso não apenas na sua
aparência formal, como também em sua estrutura (estrutura essa que lhe
advém precisamente de seu caráter teatral, ou seja, um texto destinado à
representação). A análise também se deterá em tais pormenores
estruturais (atos, cenas, quadros, etc.) sempre no encalço da
compreensão de todos os seus elementos fundamentais. Nota-se que esses
elementos são considerados em níveis de texto, não do espetáculo em que
podem resultar.
Resumo de:
MOISES, Massaud. A análise literária. 17.ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.
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