A capa do livro, com aparência infantil, é comple- tamente oposta ao conteúdo: nele há refe- rências ao suicídio, automutilação, pos- sessão, depressão e loucura. |
Autor: Carolyn Jess-Cooke
Páginas: 384
Editora: Rocco
Tradutor: Geni Hirata
Inspirada na trama de C. S. Lewis, a escritora irlandesa Carolyn Jess-Cooke concebeu O Menino Que Via Demônios unindo a ideia de um demônio que usa de artifícios para tentar um garoto e esquizofrenia infantil.
A trama é complicada e se alterna entre dois pontos de vista: o de Alex, um garotinho que é atormentado pelas lembranças de seu passado e a instabilidade do seu presente, tendo até mesmo presenciado as tentativas de suicídio de sua mãe, e Anya, uma psiquiatra infantil que assume o caso de Alex, também possuindo seus próprios sofrimentos desde a perda de sua filha para a esquizofrenia.
“Meu nome é Alex e tenho dez anos de idade. Gosto de cebolas fritas com torradas e posso ver demônios. Meu melhor amigo, Ruen, é um deles. Minha mãe está muito doente e ele diz que pode ajudá-la se eu fizer algo por ele: matar uma pessoa!“
Ambos são influenciados pela presença de Ruen, um demônio que se metamorfoseia em ora amigo de Alex, ora aproveitador de sua ingenuidade infantil. Anya é inteligente, e acredita em suas crenças. Ela se envolve no mistério de Alex e faz diversas reflexões, levando o leitor afundo no caso do garoto e sua “amizade” com o demônio. O livro puxa a dualidade oposta entre a ciência psiquiátrica e o mundo espiritual, deixando pairar no ar a ideia para que os leitores tirem suas próprias conclusões acerca do assunto. Essa dualidade de pensamentos é expressamente exposta nos dois pontos de vista postos no livro: de um lado, a narrativa de Alex é absurdamente real e detalhada, até mesmo a inocência infantil é posta por cima das palavras, ainda que a aura que o livro dá ao leitor o faça imaginar que Alex possui muito mais que dez anos. Pelo outro lado da moeda, a narrativa de Anya chega a ser quase científica, levando em conta as informações contidas em relatórios e em conversas com outros especialistas no assunto. Não há, no entanto, nenhuma confirmação de que nenhum dos dois lados seja verdadeiro, o que nos fornece bastante material para o pensamento.
Apesar das suas quase 400 páginas, o livro pode ser lido rapidamente: em parte pela sua escrita fácil e fluida, em outra por ser praticamente impossível fechá-lo uma vez aberto. O choque de identidades, do racional e o irracional, da ciência e do espírito, além da abordagem de acontecimentos que não podem ser explicados por nenhum dos lados, envolve o leitor e dá margem para lágrimas, sorrisos, raiva, medo, suspense e uma longa linha de pensamentos.
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