Semelhante com o plano da prosa e da ficção, em matéria de teatro
pode-se falar em análise macroscópica, ou macroanálise, e análise microscópica,
ou microanálise. A primeira se ocupa da obra como um todo, objetivando examinar
a estrutura total, ao passo de que a segunda busca estudar estruturas menores
ou secundárias.
De modo grosseiro, os atos convencionais de uma peça correspondem a
exposição, desenvolvimento e desenlace, isto é, cada ato se coloca num ponto da
curva dramática e possui uma carga ético-emocional própria, as mais das vezes
diversas da dos outros. Os atos de uma peça não ostentam a mesma intensidade,
podendo-se dizer que obedecem a um ritmo crescente. Essa mesma hierarquia se
observa nas cenas e nos quadros, e dessa forma as cenas se alinham num ritmo
ascendente dentro do ato da mesma forma que os quadros ascendem dentro de uma
cena. Obviamente essa simples arquitetura pode ter inúmeras variações, mas uma
peça bem estruturada tende a orientar-se nessa perspectiva.
Dessa arquitetura básica resultam aspectos que não podem fugir ao
analista interessado em dramaturgia: deve-se perguntar como cada autor fez e
coordenou a Exposição: isto é, como se dá a conhecer a situação inicial das
personagens e circunstâncias, em conjunto com a "história prévia".
Logo em seguida deve-se observar os "momentos excitantes" e os
"momentos de retardamento" que parecem reter ou desviar a catástrofe.
Mais ainda, é necessário se observar a construção, quais as cenas principais e
secundárias, onde estão e como se preparam os momentos culminantes, e como se
articulam entre si.
A análise de tais componentes macroestruturais devem despender a
necessidade de se estudar os componentes microestruturais. Na verdade, os
primeiros podiam ser considerados extrínsecos e os últimos intrínsecos. Os
últimos resumem-se no ato, na cena, no quadro, na "situação" e ação.
O pensamento corresponderia a um aspecto à parte, vinculado tanto à análise
microscópica quanto macroscópica.
Relativamente, os três primeiros compartimentos podem ser estudados
separadamente, como estruturas completas em si, dotadas de começo, meio e fim.
Um ato, uma cena ou quadro será bem mais articulado, atingirá níveis mais
elevados de tensão dramática quanto mais bem utilizados forem os elementos
fundamentais do teatro.
Entenda-se, contudo, que nem por constituir uma unidade estrutural e
implicar a harmonia no conjunto, o ato, a cena e o quadro merecem igual
tratamento. Se o quadro corresponde a uma "tomada", e o ato, a uma
série dinâmica de cenas e de quadros, imediatamente se conclui que o
procedimento analítico não pode ser o mesmo. O analista há de ter em mira a
ordem em que aparecem as cenas dentro do ato e a substância dramática de cada
uma. Em suma: examinará o conteúdo de cada cena e o seu lugar dentro do ato, e
depois procederá com o último da mesma forma, tendo em vista o todo da peça. Ao
analista cabe descobrir e investigar todos os meios de que o autor lança maio
para convencer o leitor (ou espectador), ou seja, para alcançar coerência e
"verdade" na máxima concentração permitida pelo teatro.
Resumo de:
MOISES, Massaud. A análise literária. 17.ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.
MOISES, Massaud. A análise literária. 17.ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.
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